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contramonumento

autor: Raïssa de Góes

Contramonumento – uma resistência ao monumento? Uma força que derruba o monumento? A estátua de um mercador de pessoas tombada e atirada rio? São as estátuas monumentos?  Essas perguntas me surgem ao pensar na palavra.

 

Em uma conversa com a artista Alice Miceli, quando ela ainda estava começando o processo investigativo sobre o Projeto Chernobyl, pensávamos sobre a ideia de monumento. Um monumento, porém, que desaparecesse. Lembro que uma de suas primeiras ideias era trabalhar com chumbo, material resistente à radiação e que desapareceria ao longo das décadas. Tal ideia, assim como o rumo diferente que seu trabalho tomou, me fisgaram o pensamento. Àquela altura, ela pensava em colocar essa escultura de chumbo no lugar da zona de exclusão onde ocorrera o acidente da usina radioativa. Seu volume tenderia a desaparecer simultaneamente ao perigo da radiação. O Trabalho, por fim, foi por outro caminho: radiografias que marcavam as superfícies em que estavam, através da radiação reminiscente da antiga usina. Voltando aqui à ideia do chumbo, penso um monumento em processo de desaparecimento e resistência. Um monumento que exerceria a função ativa de esquecer. Isso não quer dizer deixar passar ou não pensar mais no assunto. Mas um modo que aponte para o desaparecimento, para o esquecimento que deixa marcas, que escreve. Não uma escrita em alto contraste, mas de marcas, como um velho álbum de fotografias. Os espaços retangulares apontam para o que esteve, um rastro do tempo, mas um rastro que permanece em falta e não alcança a presa.

 

O artista francês Christian Boltanski, que trabalha com questões de monumento a contrapelo do senso comum, diz que a guerra está sempre aqui, mas nem sempre a vemos com nossos olhos. O que acontece quando ela existe invisível ao olhar? Um monumento à guerra ou ao massacre que acontecem em larga escala e diante de nossos olhos pode ser erguido em praça pública para lembrar os mortos. Mas onde está o monumento ao horror que não se vê, que não está diante do refletor de luz da História, mas existe e aniquila como um vírus ou um ato silenciado? Um monumento que resiste à invisibilidade. Alice deu sua resposta com as radiografias da zona de exclusão de Chernobyl, Boltanski vem dando respostas ao falar de horrores da guerra e baleias na Patagônia. Um silêncio que existe e, paradoxalmente, se ouve. Uma ausência incontornável, um monumento em negativo. Contramonumento.

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Fotografia de uma parede onde houve fotografias.

diálogos

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