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memória

autor: Raïssa de Góes

A memória é um lugar? Um bloco de cera onde marcas são acumuladas ao longo do tempo?
Memória guarda o que se esquece, guarda marcas e escritas do esquecimento. O que passa resta com furos e silêncios. Memória e esquecimento vivem em torção sem se excluir e sem se misturar.

Captura de Tela 2016-07-29 às 11.46.17.

Diz-se que a memória é curta, um país sem memória. Mas ela caminha entre nós, a gente pensava que esquecia, o esquecimento é fantasma que nos ronda. É porrada nas costas que ainda dói, um retorno do que cala. Não foi negando a memória que nos afundamos, morremos quando a memória não se retirou e o autoritarismo permaneceu à espreita. Pensávamos em não esquecer as vítimas, mas foi uma homenagem à memória de um torturador que nos mostrou o mal. Tempos passaram carregando a crença que tentar apagar a memória nos levaria ao horror, repetição do horror. O que houve foi uma decida aos bueiros, a camuflagem do ódio e a violência cotidiana ignorada romperam do asfalto e mostraram jamais terem sido totalmente apagadas. Esquecimento que escrevia a história com ponta de punhal.

 

Mas não é só isso, não pode ser, não tem quem aguente.

Captura de Tela 2016-07-29 às 11.46.35.

A marca da mão sobre o espelho leva o tempo da temperatura para sumir. O calor da mão faz a marca e a superfície fria a expulsa. Mas existe o tempo, a duração da permanência que é lembrança, a memória do toque. Mão negativa sobre espelho. Como a mão que enrosca uma cintura e vai embora depois da dança e o peso da mão ainda resta. Mão em negativo, um avesso de presença, esse avesso não é oposição, mas torção. Esquecimento e memória escrevem em nossos ouvidos, corpos, ruas e vozes.

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diálogos

Rosângela Rennó

Vera Cruz (2000)

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